Hoje eu quero dizer uma ou duas palavrinhas sobre Moda e Anti-Moda, que me parece ser o tema proposto pelo Jefferson no slogan: “Você usa Roupa ou Design?”. No post anterior, nós falamos sobre o lado emocional de se usar objetos de design, refletindo assim o conceito de Objeto-Signo, de Jean Baudrillard (Para Uma Crítica da Economia Política do Signo, 1972) e os conceitos de Moda e Anti-Moda.
Vamos começar falando sobre “objeto de design” que é um termo que, creio, pede uma definição mais clara pois, a priori, qualquer objeto, seja ele industrial ou não, é resultado de algum método e processo de criação e planejamento, que são a base do conceito Design. No caso de objetos usados como expressão de identidades pessoais, sejam eles roupas, carros, bolsas ou óculos, esses objetos são considerados Objetos-Signos, que expressam significados sociais e culturais dentro de uma certa esfera cultural (por exemplo, cultura Ocidental ou Oriental).
Dito brevemente, o conceito de Objeto-Signo postula que os objetos de consumo possuem um significado, ou um valor, que está além de sua materialidade. Baudrillard identificou quatro modos pelos quais um objeto adquire valor, ou significado (como estou de férias e viajando, não tenho meu livro para consultar aqui, entao tomei a liberdade de usar o Wikipedia como referência):
Pela sua função: uma caneta serve para escrever;
Pelo seu valor de troca: uma caneta é adquirida por um certo preço, ou ela pode valer mais ou menos do que outras;
Pelo seu valor simbólico (e eu diria mesmo, metonímico) em relação a outros significados: uma caneta oferecida como um presente de formatura pode signficar “graduação na universidade”, ou um diamante, “amor” ou “casamento”;
Pelo seu valor enquanto signo, em relação ao Sistema de Objetos, quer dizer, objetos situados no contexto social expressam valores sociais, ou seja, embora uma caneta seja apenas uma caneta, uma caneta Mont Blanc, por exemplo, pode expressar prestígio social dentro do sistema de valores da nossa cultura ocidental contemporânea, dependente do papel e posição social de quem a usa.
Se pararmos para pesquisar um pouco, veremos que a História da Arte nos mostra que objetos sempre expressaram um significado que está além do seu valor de uso. Já era assim com as relíquias e ícones da Igreja Católica e, ainda mais antigamente, com os objetos mágicos e os talismãs usados pelos homens primitivos e pelos xamãs indígenas. Assim, a palavra “signo” significa uma coisa (ou um significado) que é expresso atraves de outra coisa (ou significado), como o exemplo da caneta Mont Blanc ou de uma bolsa Chanel, que expressam prestígio e alto luxo.
Agora, quando o Jefferson nos pergunta se usamos Roupa ou Design, a questão está no valor ou significado que atribuímos à nossa vestimenta, tanto nas situações sociais em que as usamos, como no contexto social e cultural em que vivemos. Nossa vestimenta, como objetos-signos, funcionam como mediadores do processo de gerenciamento identitário que fazemos da nossa própria imagem, em relação a nós mesmos e aos outros à nossa volta. Com que roupa irei hoje? Será adequada à situação social? Aí entramos na antiga questão filosófica do Ser e do Parecer em relacao à imagem que fazemos de nós mesmos em relação ao Outro: Quem sou eu? Quem eu acho que sou? Como os outros pensam que sou? Como acho que os outros me vêem? Eu me mostro realmente como sou ou apenas o que quero que os outros vejam? É por meio da relação entre nossa Identidade e nossa Alteridade (nossa relação com o Outro) que construímos nossa imagem por meio da manipulação dos significados que atribuímos aos objetos com que adornamos nosso corpo.
Então, voltando à nossa questão, o termo Roupa representa a vestimenta Anti-Fashion, que não segue a moda, quer dizer, representa a Tradição – por exemplo, os uniformes e vestimentas religiosas. Mas também pode ser Anti-Moda a roupa tradicional de quem diz “odeio a Moda”, “não sigo a Moda”, algo como aquele mesmo cabelo repartido ao meio desde a adolescência. Aliás, é importante que haja o Anti-Fashion justamente pelo contraste que ele faz com a Moda, para sinalizar e haver um ponto de referência em relação ao que é vanguarda e ao que já passou.
Semana que vem vamos terminar essa discussão, posicionando a sociedade japonesa nesse contexto, mas antes, quero deixar uma pergunta no ar:
Será que poderíamos dizer que jeans + T-shirt poderiam ser considerados Anti-Fashion? São praticamente os mesmos desde que foram consagrados por James Dean, no cinema, mas se poderia argumentar que é uma combinação “preguiçosa”, de quem quer parecer jovem mas não quer pensar muito na hora de se vestir. Combinação consagrada por representar Moda em termos simbólicos, por possuir um valor-signo (um significado) “rebelde”, porém basicamente invariante em termos de modelagem. O que você acha?
Uma ótima semana!!
Christopher Zoellner
ピント、クリストファー・ゾエルネル