O Estruturalismo, tanto em Foucault como em Barthes ou em Hjelmslev nos ensina que Discursos são formados por duas componentes: uma verbal e uma visual. Isso vale dizer que idéias e discursos são representados sob formas visuais e verbais. Ainda que a representação da idéia não assuma a forma visual, ainda assim encontra-se presente, no seu processo de criação, uma imagem visual, sob a forma de um pensamento esquemático ou diagramático, ou uma imagem puramente mental, ainda que logicamente indefinida. O que eu quero dizer é que antes de se criar, creio eu, é necessário pensar, refletir:
O que eu quero dizer?
Qual a forma mais criativa de se expressar essa idéia considerando minha intenção criativa?
Que suportes utilizar, ou sob que estruturas articular a argumentação do discurso?
Mesmo que a interpretação por parte do leitor/observador seja diferente, o pensamento racional dá consistência à obra, ao tornar claras nossas intenções poéticas. Por exemplo, uma história pode ser escrita seguindo uma narrativa baseada em um romance, em um conto, em uma poesia, etc. Pode seguir uma estrutura cronológica sequencial ou, ao contrário, em flashback, como na peça “O Vestido de Noiva”, de Nelson Rodrigues; pode ainda seguir um discurso desarticulado, sob a forma de fluxo de idéias, como no “Ulisses” de James Joyce, ou no “Catatau”, de Paulo Leminski. Um artista visual irá ainda considerar as técnicas e suportes a utilizar, pois a priori uma idéia pode ser expressa em qualquer técnica e suporte, assim como a história de “Romeu e Julieta” pode ser narrativamente representada como uma comédia, uma tragédia ou uma poesia, usando suportes como instalação, filme, história em quadrinhos ou dança. Ou até mesmo uma coleção de roupas para o São Paulo Fashion Week.
Joseph Kosuth. One and Three Chairs, 1965. Exemplo de arte conceitual em torno de definições verbais e visuais do conceito “cadeira”
O que eu quero dizer é que os criadores (ou criativos) devem ser (ou deveriam ser), antes de tudo, pensadores, tanto verbais como visuais, musicais, gesturais, etc. O processo de produção cultural começa com os criadores (ou antes ainda, com os clientes), passa pelos produtores e termina com os consumidores que, por sua vez, de diferentes modos, recriam a cultura, por meio da sua interpretação de músicas, filmes, revistas, etc. Às vezes o consumo é passivo, limitando-se à digestão do que foi consumido, mas esse consumo servirá como fonte de insipiração para tantos criativos, como designers, músicos, escritores, jornalistas, formadores de opinião, blogueiros, etc. Mesmo entre os consumidores passivos, traços do consumo cultural serão utilizados metaforicamente para a formação de opiniões e gostos individuais a serem eventualmente expressos em Facebooks e Twitters, por exemplo.