Comida parece ser um dos temas mais populares entre os japoneses, ocupando boa parte da programação da TV e contando com diversas revistas e publicações. Qualquer caminhada pelas ruas de Tokyo, e do Japão em geral, revela restaurantes especializados em diversos tipos de pratos regionais ou nacionais. Entre o que os ocidentais genericamente chamamos de “macarrão” ou “pasta”, por exemplo, existem variedades japonesas e orientais, como o ”lamen” chinês (aqui chamado “ramen”), soba, udon e harusame.
O que eh interessante de se ver no Japão sao as vitrines dos restaurantes mostrando modelos dos pratos feitos em resina, em tamanho real. Mesmo que não se fale o japonês, fica fácil escolher o que se quer, além dos modelos serem uma curiosidade em si mesmos, pela perfeição com que são feitos.
Como em quase tudo, o Japão absoveu culturas culinárias de outros países ao longo dos séculos, especialmente após a Segunda Guerra. Influências chinesas e coreanas fazem parte da própria formação histórica do Japão, há mais de mil anos. Outras influências que entraram para a culinária do dia-a-dia são as comidas indianas, principalmente o curry, que os japoneses adaptaram para seu paladar. Culinárias asiáticas em geral também sao muito populares, como a tailandesa e a vietnamita. Churrascarias americanas e brasileiras existem mas não são tão populares, embora os japoneses já tenham absorvido o gosto ocidental pelas carnes.
Entre a culinária européia, a cozinha italiana, também adaptada, usa recheios decididamente estranhos para os estrangeiros, como pizza ou pasta com lula, brócolis, polvo, caranguejo, teriyaki, atum e maionese, etc. Num gênero mais subcultural, muito boas são as lanchonetes que servem gourmet hamburguers, como o Pakuch, em Tokyo, e a franquia Moosburger – muito diferentes das cadeias americanas, de McDonald’s e Burguer King’s a Wendy’s.
Os japoneses têm uma antiga tradição de apreciar as coisas bonitas e delicadas, num sentido que em inglês se diz “cute” e em japonês, “kawaii”. São “kawaii”, por exemplo, crianças pequenas e bebês, filhotes em geral, coisas fofinhas e cheias de frufrus e rendas, refêrencias decididamente de meninas, mas que fazem parte do vocabulário cotidiano, mesmo entre os homens – embora um homem não seja chamado de kawaii, e sim de kakkoii (legal, ou charmoso). Segundo Kinsella (1995)[1], kawaii refere-se a pessoas ou animais indefesos, que evocam um sentimento de querermos proteger e pegar no colo. Pathos tambem é um sentimento associado, o sentido de patético e de piedade. Talvez em parte por causa dessa cultura kawaii, que se vê tanto no tradicional chirimen zaiku (crepe craft),como nas roupas das Lolitas de Harajuku,
que as culinárias requintadas sejam tão populares por aqui.
Digo isso porque me parece haver uma relação entre essa cultura kawaii e a tamanha popularidade das boulangerie francesas no Japão. Os doces e pães sao delicados, apresentados com muito charme, estilo e uma certa atmosfera rústica provençal. Um dos meus favoritos, aliás, é essa pequena padaria perto da minha universidade, fora do centro de Tokyo (clique em Menu e depois sobre as fotos dos pães, à esquerda, e doces, à direita).
Populares são não apenas boulangeries, como tambem cafés em estilo provençal, lojas de decoração de interiores em estilo rústico, restaurantes franceses indicados no Guia Michelin, além da febre nacional do vinhos beaujolais, em novembro.
Com todo esse interesse por comida, pode-se dizer que esse é um assunto que está sempre na moda, com variações sazonais indo e vindo. Por exemplo, está na moda agora os programas de TV convidarem chefs para avaliar cardápios de restaurantes populares ou os talentos culinários de atrizes e celebridades. Outro evento popular que acontece todo ano são os concursos para ver quem come mais quantidade de comida, com etapas classificatórias e troféu no final. Além disso, num país em que as estações do ano são bem definidas, as roupas, comidas e eventos são sazonalmente respeitados e objeto de atenção. Quer dizer, tradicionais, mas sempre na moda.